Relato do nascimento do nosso bebê surpresa
O planejamento da chegada do
nosso segundo bebê começou muito antes da minha gravidez. Começou depois do
nascimento da Maria Eduarda. Depois de passar por um puerpério punk,
dificuldades com amamentação e vínculo, eu revi tudo que tinha vivido no
nascimento da minha primeira filha e decidi que nada do que havíamos vivido
combinava com as coisas que eu acredito, que eu acho certo.
Nunca vou esquecer que eu fui a
pessoa que demorou mais horas pra ver minha filha e nem do tratamento
“protocolo do hospital” que ela recebeu. Foi esfregada em baixo de uma pia,
aspirada, afastada de mim. Toda aquela chegada que era muito errada na minha
visão me fez chegar ao parto humanizado, o parto que respeita o tempo do bebê e
a autonomia da mulher. Mesmo quando eu não pensava em ter outro filho, passei a
defender e a expor pra amigas que desejam um parto normal, as informações que
eu ouvia sobre o parto humanizado.
Eis que eu engravido! E não tinha
a menor duvida que dessa vez a historia seria outra. Procurei uma médica em
outra cidade, uma médica humana em todos os sentidos que te acolhe logo no
primeiro abraço no consultório. Com ela segui meu pré-natal até 30 semanas. Ela
foi maravilhosa, esclareceu minhas duvidas, me ajudou a lidar com esse
desconhecido mundo do “trabalho de parto e do parir”.
Por questões do plano de saúde,
tive que trocar de médica com 30 semanas. Foi aí que conheci minha obstetra.
Também foi amor à primeira vista. Uma pessoa doce, competente e que também me
acolheu e me recebeu de braços abertos no meio da minha ansiedade de ficar sem
saber o que fazer depois de ter que largar meu plano A. A partir da minha
obstetra, conheci minha doula que naquela época, eu nem fazia idéia de como ela
seria essencial e importantíssima durante e pós parto.
Meu pré-natal foi tranquilo.
Pressão boa, nada de diabetes gestacional, só aguardando a chegada do nosso
bebê surpresa. Nosso bebê encaixou cedo e por algum motivo, eu jurava que não
chegaríamos a DPP.
Nosso bebê que havia me passado a
perna outras vezes, me passou a perna novamente. Com 37 semanas, tivemos nosso
colo num dos grupos de apoio ao parto normal da minha cidade. Eu chamei e
cantei pra ele como cantava sempre. Essa música foi marcante na nossa gravidez.
Um anjo do
céu
Que trouxe
pra mim
É a mais
bonita
A joia
perfeita
Que é pra eu
cuidar
Que é pra eu
amar
Gota
cristalina
Tem toda
inocência
Vem, ó, meu
bem
Não chore não
Vou cantar
pra você
Vem, ó, meu
bem
Não chore não
Vou cantar
pra você
Um anjo do
céu
Que me
escolheu
Serei o seu
porto
Guardião da
pureza
Que é pra eu
cuidar
Que é pra eu
amar
Gota
cristalina
Tem toda
inocência
Vem, ó, meu
bem
Não chore não
Vou cantar
pra você
Vem, ó, meu
bem
Não chore não
Vou cantar
pra você
Foi um momento
único, que vivi com duas amigas queridas, com uma energia singular e muita
emoção e amor.
38...39
semanas e nada! Eu sentia muitas cólicas e contrações espaçadas mas nada de
tampão a vista. Todos os dias eu chamava meu bebê. Falava pra ele que estava
pronta pra recebê-lo, que juntos iriamos enfrentar o mundo e que eu o amava
muito. Eu sentia meu corpo se preparando para o parto, situação que não vivi
com minha primeira filha. Na gravidez da Maria não senti nenhuma contração,
nenhuma cólica, nenhum sinal. Maria nasceu de 38s6d e não teve tempo de nada.
Chegamos a DPP
e sem sinais de trabalho de parto! O bebê estava ótimo nos exames, mexendo
super bem. As vezes, eu tinha a sensação que ia ficar grávida para sempre, que
o trabalho de parto não ia começar nunca. A cultura de que nosso corpo “não
funciona” é tão grande que mesmo estando preparada, tinha meus momentos de
fraqueza, que eu achava que não ia nem entrar em TP.
Chegamos as 41
semanas, dia do aniversário do meu avô que faleceu em janeiro. Muita gente
achava que nosso bebê chegaria naquele dia. Com 41s3d, eu senti seu primeiro
sinal.
As 23h30min do
dia 21/06, um domingo, eu senti minha primeira contração efetiva. Achava que
era uma dor de barriga forte porque tinha comido pastel algumas horas antes. Fui dormir com essas contrações mais doloridas
mas logo, tive certeza que era o pastel que não tinha caído bem. Fiz uma
oração, cantei, chamei meu filho, pedi a Deus que ele viesse saudável e que me permitisse
ter paciência para que ele chegasse como eu desejava: No tempo dele.
Acordei duas
vezes naquela madrugada para ir ao banheiro. As 4h30min do dia 22/06, as
contrações me acordaram. Comecei a contar as contrações. Estavam de 5/5min mas
bem suportáveis. Eu estava feliz da vida!!! O dia tinha chegado! O meu trabalho
de parto tinha iniciado!
Parece
estranho falar isso mas eu curti cada contração daquela, alisei a barriga,
deixei mensagem pras amigas que viam acompanhando de parto a chegada no nosso
bebê. As 6h da manhã mandei mensagem pra doula e fui tomar banho. Deitei um
pouco pois estava cansada. As dores começaram a piorar pelas 9 ou 10 horas da
manhã. Confesso que eu perdi um pouco a noção do tempo. Lembro do meu marido me
oferecendo algo pra comer. Só consegui engolir uma banana. Perto das 11h, minha
doula chegou. As contrações já estavam intensas e com 5 contrações a cada 10
minutos. Minha obstetra foi avisada e viria nos encontrar.
Devido a
intensidade das contrações, fomos ao consultório da obstetra back up avaliar o
coração do bebê e a dilatação. Chegando lá, a médica detectou uma queda nos
batimentos do bebê e colo em pródomos, com 80% apagado. Nesse momento, eu soube
no meu coração que havia algo errado. As contrações eram muito intensas para
pródomos e ali me preparei para a situação que eu não queria: a cesariana. O
tampão sanguinolento começou a sair naquele momento.
Fomos para o
hospital fazer uma cardiotocografia. Era próximo de 13h. Minha obstetra já havia
chegado e acompanhou o exame. O
resultado apontou uma desaceleração precoce que poderia ocorrer em virtude do
meu jejum (só havia comido uma banana perto das 6h da manhã). Fomos pra casa
comer um carboidrato e uma proteína e voltaríamos em seguida pro hospital, já
sabendo que internaríamos naquele dia.
O hospital
estava lotado de cesarianas eletivas. Antes mesmo de eu chegar, minha medica já
tentava a minha internação sem sucesso. O hospital não apresentou menor
interesse em desmarcar uma cirurgia agendada para receber uma emergência.
Queria pré internação! Como se faz pré internação para trabalho de parto?
Trabalho de parto é caso de emergência!
Repetimos o
exame. O resultado piorou, fomos pra uma desaceleração tardia. Tentamos
novamente a internação. A médica fez o toque e 2cm de dilatação. Desistimos das
tentativas frustradas e fomos pra outro hospital. Como é difícil andar de carro
com contrações!!! Nossa, eu fiz 4 deslocamentos em trabalho de parto e posso
afirmar que é punk demais.
Chegamos no
outro hospital e conversamos. Iriamos pra cesariana de emergência, intraparto,
em virtude da piora do coração do bebê na cardiotocografia e da dilatação ainda
precoce. Eu já sentia no meu coração que a cesárea ia ser necessária no caso do
meu filho depois daquele dia todo.
O que posso
relatar da cesariana é que foi muito diferente da primeira. A anestesia foi
super tranquila. Tive meu marido e minha doula do meu lado em todos os
momentos. As 19h12min, nasceu nosso bebê. Eu mesma vi o sexo daquele neném que
esperávamos a tanto tempo. Era uma menina! Era nossa Juliana. Ela nasceu,
chorou e foi direto pro meu colo. A bolsa estava repleta de mecônio. Ela foi
pro meu peito. Não conseguiu mamar mas ficou lá, agarradinha a mim, lambeu
colostro. Nasceu com apgar 7/9, com 51cm e 3890g.
Juliana
começou a ficar com saturação baixa de oxigênio após o parto. Ela foi aquecida
mas o quadro piorou 3h depois, levando a internação na UTI neonatal. Dali seu
quadro foi para gravíssimo naquela madrugada. Eu nunca vou esquecer da manhã
daquela terça-feira, quando ouvi o seu estado de saúde. Naquele momento, eu
achei que ia perder minha filha. Ela tinha um quadro de síndrome de aspiração
meconial muito grave.
Não nos davam
muito esperança na UTI. Apesar do grande acolhimento que sempre recebemos lá,
ali tínhamos resultados e não expectativas. Vi Juliana na incubadora, repleta
de medicamentos e tubos só conseguia pedir a Deus que permitisse que ela
ficasse comigo. Eu lutava contra os
sentimentos ambíguos de querer estar perto dela e ter pavor de passar por
aquela porta da UTI e ter uma péssima noticia.
Tive alta e
foi um dos piores momentos que já vivi. Voltar pra casa sem a Juliana.
Conversar com a Maria Eduarda que a irmã tinha ficado no hospital. Um grupo
imenso de familiares e amigos queridos se juntou em oração pela Juliana. Tive
minha obstetra e minha doula ao nosso lado durante todo momento.
Incrivelmente,
superando as expectativas, Juliana melhorou dia após dia. Com 1 semana de vida,
peguei ela no colo de verdade e ninei pertinho do meu peito, cantando pra ela
UM ANJO DO CÉU. Tentava loucamente não cair no choro, com medo da enfermeira me
tirar dali.
No dia
seguinte amamentei pela primeira vez. Ninguém acreditava que ela ia aguentar
sugar. E ela surpreendeu novamente. Sugou e sugou muito bem. Com 14 dias de
vida, no domingo, dia 05/07, tivemos alta da UTI.
Eu tenho
certeza que toda essa melhora da Juliana foi devido a sua maturidade como bebê.
Seu pulmão estava pronto, seu corpo estava pronto. Ela foi uma guerreira e ter
esperado seu tempo pra nascer, foi essencial para termos ela aqui hoje conosco.
Aos amigos e familiares que rezaram tanto por nós, meu agradecimento eterno!
Nunca agradecerei o suficiente. Deus é bom e nos permitiu ter Juliana junto
conosco.
Apesar da
fatalidade da Juliana ter ido para UTI neonatal mesmo tendo nascido bem, a
experiência que vivi nessa gravidez foi incrivelmente intensa e ativa que na
experiência anterior. Eu faria tudo exatamente igual e faria as mesmas
escolhas. Nosso corpo é perfeito. Esperar o tempo certo dos nossos filhos faz
milagres na vida deles mesmo quando algo sai errado.
Minha eterna
gratidão a minha obstetra que agiu corretamente. Foi gentil, humana e muito
competente. Eu a admiro demais pelo lindo trabalho que ela faz. Também dedico minha gratidão a minha doula,
que eu não tinha ideia de como seria essencial nesse caminho. Só ela conseguia
me acalmar durante as contrações e ela foi meu apoio durante todo aquele dia e
nos dias pós também. E ao meu marido que foi exatamente como eu esperava e que
viveu comigo esse sonho de uma chegada mais respeitosa a nossa filha.
Caramba Marcela! To chorando horrores aqui. Não tinha idéia de nada disso, alguém comentou comigo ontem e eu vim ler.
ResponderExcluirVocê foi muito forte e guerreira e graças a Deus a Juliana puxou a mamãe e se recuperou bem e rápido. Não consigo nem imaginar tudo que você passou.
Eu acho que eu processaria o primeiro hospital que não te deu o suporte que você precisava naquele momento. Ou talvez seja melhor esquecer e seguir em frente, cuidar das suas 2 princesas.
Fico triste, de verdade, que você não conseguiu realizar seu sonho do PN. Você fez o certo, tenho orgulho de você.
Enfim,parabéns pelo nascimento da Juliana e desejo a ela uma vida repleta de bençãos, saúde e muitas felicidades.
ps: eu sempre soube que seria uma menininha :)