Relato do desmame da Juliana

Quando eu estava grávida da Juliana, eu tinha duas metas pessoais para amamentação dela:
1) Queria os seis meses exclusivos e em livre demanda
2) Queria amamentar até os 2 anos.

Tudo refletia considerações de atitudes que eu não consegui seguir com a Maria Eduarda por n motivos. Maria não foi nem amamentada exclusivamente até o sexto mês e parou de mamar entre o quinto e o sexto mês, presente de uma IA feita antes do tempo e a introdução da mamadeira e chupeta.

Lógico que eu não contava com a UTI neonatal no meu caminho junto com a Juju mas esse enorme obstáculo foi superado por nós. Chegamos ao meu maior desejo: 6 meses de amamentação exclusiva mesmo com o uso de bicos artificiais (chupeta/mamadeira)

Assim como eu desejava, seguimos com a amamentação após o sexto mês. Retornei ao trabalho quando ela tinha 7 meses. Tirei leite no trabalho no horário de almoço até seus 11 meses de vida. Por fim, a produção reduziu muito e não aguentava mais essa retirada. Juliana mamava leite materno por onze meses mesmo quando eu não estava em casa e sua introdução ao leite de vaca (via queijo e iogurte) aconteceu quando ela fez 1 ano e 2 meses. 

A demanda da amamentação é enorme. Amamentar envolve muita doação. É prazeroso? Pra mim foi sim. Muito prazeroso mas a disponibilidade para faze-lo é tão grande quanto a satisfação. O que soma tudo isso é saber que eu estava oferecendo um alimento super nutritivo, que fazia um bem danado pra ela e ainda fortalecia nosso vínculo. Esse aumento do vínculo veio de forma avassaladora com a chegada dos 1 ano e cinco meses. 

Nosso vínculo era tão grande que não existia mãe sem peito. Eu me sentia um peito ambulante para Juliana e tinha perdido toda e qualquer liberdade para realizar outras atividades sem envolve-la. Ficar com pai, com o avô tudo era um tormento. Ela chorava demais e gritava pro mundo que queria o mamá.

Essa relação Mãe-peito-Juliana foi ficando cada vez mais limitante e toda a minha idealização de amamentar até os dois anos foi pro ralo. Eu esperava que conforme ela fosse crescendo, que o peito fosse ficar para momentos mais raros como ao se machucar ou a dormir. No entanto, bastava estar no meu colo ou me ver sentada que Juliana queria mamar. O tempo todo inclusive na madrugada, o que dificultava muito meu trabalho no dia seguinte.

Comprei meu primeiro leite artificial e não foi aceito por ela. Eu estava decidida a desmamar. Estava no meu limite. Como que por um milagre, ela voltou a dormir melhor na madrugada e eu fui acalmando meu desejo de desmamar. A pediatra me apoiou muito a não desmamar, me injetou forças pra seguir em frente.

Estava eu lá, com uma criança de 1 ano e seis meses, disposta a seguir a amamentação por mais um pouquinho ou começar a pesquisar maneiras efetivas pra reduzir mamadas. Entrei de férias do trabalho em janeiro e me sentia com um recém-nascido em casa.

Eu amamentava o tempo todo e em todas as horas possíveis. Não podia sair de perto que era um choro sem fim. E volta a idéia do desmame na minha cabeça.

Em fevereiro, recebi uma proposta de viajar para fora do país a trabalho por uma semana. Uma semana longe das filhas, uma semana sem dar de mamar. Pensei comigo....ahhh meu Deus, vou dormir!!!!!!!!!! (me julguem hahahahahaha) e topei na hora, empolgada com o desafio proposto.

E aí você me pergunta se eu preparei Juliana para ficar uma semana longe de mim? Aquela menina que não podia me ver no outro quarto sem chorar? Não! Não preparei! Amamentei como sempre, inclusive minutos antes de entrar no carro para o aeroporto. Rede de apoio preparada para o que todos esperavam: Choro e noites em claro. E eu fui, disposta a aceitar tudo na volta, o desmame ou o retorno da amamentação.

Juliana, como a bela caixinha de surpresas que é na minha vida, não chorou e não passou nenhuma noite em claro. Pelo contrário, ela dormiu todas as noites inteiras, sem interrupções. Raramente chamava mamãe e curtiu os dias com a irmã, o pai e os avós.

A mãe que sonhava com as noites sozinha na cama, retornou com abraços apertados e zero interesse no mamá. Em um determinado momento, eu fiquei deitada na cama e ela pediu para mamar. Deixei ela mamar. Durou 2 minutos. Foi nossa última vez. Eu não imaginava que seria assim. Achei que ela voltaria a mamar normalmente. Naquela mesma noite, dormiu no colo do pai. Pediu o colo do pai. Zero choro. Mamãe foi ver TV sozinha.

Depois desse dia do retorno, 04/03, não houve mais pedidos pra mamar mas ainda rola pedidos pra ficar com peito de fora, para beijar, para abraçar o mamá. Com mais de um mês pós desmame, ela ainda pede para ver o peito mas cada vez menos. Eu ganhei um filha que dorme com o pai, ganhei mais tempo pra mim, ganhei saídas a noite sem me preocupar com a filha que só dormia mamando no peito.

Só pra não deixar de ser contraditória, um sentimento "nunca mais vou amamentar na vida" bateu em mim. Uma saudade do que vivemos mas de forma doce, tranquila, serena e feliz. Encerramos essa fase juntas.

Eu não bati minha meta mas que graça teria em criar filhos se eles não existissem pra nos surpreender?






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