Paternidade Ativa ou ser pai quando dá? - Dia dos Pais

Começa o mês de agosto e o mercado ferve com a chegada dos dias dos pais. Eu fiquei refletindo aqui se fingia também no virtual que o dia dos pais não existe. Eu não curto muito falar de paternidade mas infelizmente a maternidade é uma tarefa das mais árduas justamente porque a paternidade é ausente ou como eu gosto de falar, conveniente.

Não dá para falar do dia dos pais sem citar que 5,5 milhões de crianças não possuem o nome do pai na certidão de nascimento (dados do Conselho Nacional de Justiça baseado no Censo Escolar de 2011). Você consegue imaginar quantas milhões de crianças tem pai na certidão que efetivamente não é pai? Acrescente milhões a lista. É um número alarmante que fala muito não só sobre abandono mas sobre a sobrecarga materna.

Por que afinal o que é ser pai? A realidade tem me mostrado juntamente com cada história que eu escuto, que a paternidade é uma definição muito variável de acordo com os homens. Pergunte sobre a maternidade. Ela virá acompanhada de características como abnegação, dedicação, desprendimento, exaustão. A maternidade sofrida e exacerbada é fruto justamente de uma sociedade que não dá ao pai a responsabilidade que lhe cabe na criação de uma criança.

Paternidade é uma escolha. Não deveria ser mas é a realidade de milhões de crianças que ou nunca vão conhecer o pai ou que vão conviver com um “pai de visita”. Ser pai é estar presente para seus filhos, não só na presença física, mas no querer, no se importar, no estar em contato, no dividir tarefas. Quantos pais realmente conhecem seus filhos? Sabem seus gostos, sua cor favorita, suas manias, o que ele faz todo dia na escola, o nome do melhor amigo, as aflições do dia a dia porque o amigo não quis brincar com ele? Pais que trocam meia dúzia de fraldas, que nunca cozinharam uma refeição para os filhos, pais que conseguem passar dia após dia sem saber se o filho caiu na escola e ralou o joelho, se o filho encontrou um pequeno tesouro na rua, se o filho está vivo ou morto. Pais que esquecem que tem filhos, morando longe ou morando perto, porque estar junto não significa estar presente.

A paternidade conveniente que vê “quando dá”, que “aparece quando pode”, que “leva no pediatra quando tiver tempo”, que “pede pra sua mãe te arrumar”, que não é ser ativo dessa relação. Pais que estão esperando o momento ideal para serem pais, que deixam para depois ou obviamente para as mães, o que podiam estar vivendo com seus filhos. A figura de super herói paterno some. Pode acreditar. Um dia a criança cresce, olha para trás e vê a realidade do abandono real ou apenas aquele abandono de espírito e de interesse. Aquela frase típica “papai está morrendo de saudades” uma hora morre e ninguém mais leva fé.

Muitas escolas ainda vão comemorar o dia dos pais nessa semana. Serão crianças tristes, avôs presentes, mães presentes, muitas faltas e muitos pais que irão na festa mas que nunca entraram numa reunião escolar, com o professor do seu filho.

Ter uma criança dominando a sua vida é muitas vezes enlouquecedor mas é uma experiência única. Essa loucura toda poderia ser menor se houvesse uma divisão real de cuidados, pai e mãe. Alguns pais já tem despertado para as maravilhas que muitos chamam de paternidade ativa que basicamente é a incrível tarefa de ser PAI (olha só!!!). Não quando dá, não quando tiver um tempo, não quando morar mais perto. Pai que dá seu jeito e que FAZ acontecer. Pais que se preocupam com seus filhos 24h, sete dias na semana.


Nesse dia dos pais, que haja menos abandono, menos choro, menos criança com olhar perdido. Seja menos do presente, da camisa de super herói, da ligação de “parabéns”. Que seja um dia para falar sim, que precisamos de mais presença, de mais respeito e de mais ação. Porque ser pai é muito mais do que ser visita, do que morar na mesma casa, do que falar "te amo", do que ser genitor.




Comentários

  1. Fui uma criança com um pai que aparecia quando dava é meu filho por muito tempo também experimentou essa situação . É bem isso mesmo . Obrigada pelo texto está ótimo

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  2. Doeu... Chorei.... Meu filho está prestes a viver isso. O genitor decidiu ser pai. Uma vez por mês. Que medo do futuro. Que medo de ver meu filho sofrer... Que Deus cuide da gente...

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