Meninas e a lição do ódio ao corpo


Muitas vezes quando nasce uma bebezinha numa família, ela é tratada como princesa, a lindinha da casa. Repetimos várias vezes por dia o quanto ela é linda, o quanto ela é fofa, maravilhosa. Conforme a menina vai crescendo, ela começa a aprender que existe um padrão de beleza na sociedade. Aprendem rápido, pode crer. Quem te fala isso é uma menina que sempre foi gorda. A percepção é rápida. Começa vendo as mulheres adultas reclamando de seus corpos:

- A mamãe não pode comer o bolo de aniversário!
- Gente, se eu comer mais um brigadeiro vou ficar enorme de gorda.
- Depois do Natal, acho que engoli um elefante!

Somado a isso, os julgamentos dos próprios homens querendo definir como deveria ser o corpo das mulheres ao seu redor. Aprende-se facilmente que emagrecer significa elogio e beleza e o oposto, ao engordar, encaram as piadas e a rejeição. 

Então, a menina observa o comer, as reações, as falas. Em pouco tempo, ela quer ser magra como as bonecas, como as atrizes da novelinha infantil, como o sonho da irmã, da tia, da vizinha, da madrinha e da mãe. Se for uma menina gorda, já entra na dieta. E dieta é um ciclo vicioso. Ganha, perde, ganha, perde.  A menina gorda já não se vê nas bonecas e nas novelas. Já entende que o corpo dela não é o corpo ideal.

Um dia a gente cresce, se torna adolescente e adulta e a busca pelo corpo segue com a gente. Segue atormentando nossas noitadas, saídas com amigos, os almoços em família. Fora o corpo, a sociedade adora duvidar da nossa capacidade. É muito complicado ter uma auto estima saudável sendo mulher. Ter uma auto estima sendo uma mulher gorda é mais difícil ainda. Mesmo com crescimento do movimento de "Body positive" e de "aceitação corporal", a grande maioria das mulheres gordas ainda tratam com ódio e desprezo o corpo que habitam. Ainda recebem da sociedade olhares de ódio, desprezo e até, nojo. 

A sororidade está longe de incluir corpos distintos. As mulheres falam do corpo das outras e do seu próprio corpo com repugnância, com horror de cinco quilos a mais. Imagina com é quando você tem 20, 30 ou 50kg a mais? As palavras ofensivas ganham peso ainda maior e a realidade de ser gordo, para quem é magra, é quase tão ruim que é inalcançável como um pesadelo. 

E a auto estima é milagrosa. Dá poderes, confiança, certezas e faz a gente acreditar que há beleza em corpos distintos, há sexy appeal, há proatividade, há felicidade, há inteligência, há coragem, há força. Enquanto nós, mulheres, seguirmos destruindo ou não alimentando positivamente a nossa auto estima ou a auto estima da outra mulher, seguiremos todas no mesmo barco, massacradas pela pressão estética: as magras e gordas sofrendo por um corpo inatingível. Gordas cada vez mais excluídas numa sociedade que não faz questão de ser acessível. 

Imagem: asgordas.wordpress.com

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