Gordofobia, pressão estética....um pouco mais sobre essa diferença.

Eu já escrevi aqui sobre gordofobia e já escrevi muito sobre pressão estética. 
Sim. Gordofobia e pressão estética são coisas diferentes. 
A pressão estética é sim uma parte importante dentro da gordofobia mas há pontos muito importantes que se agregam quando falamos de preconceito a pessoa gorda.

Pressão estética é o que toda e qualquer mulher vive, seja ela magra ou gorda. É aquela questão de buscar um corpo perfeito quase inalcançável, é ser olhada e julgada pela sua aparência. É ouvir sobre sua barriga que deveria ser assim ou assado, a bunda que precisa ser mais durinha ou os seios que precisam ser turbinados ou reduzidos. Sim, uma pessoa magra sofre toda essa pressão. A pressão de uma sociedade patriarcal que nos trata como bonequinhas pra exposição. A pressão é tão grande quanto lucrativa. Alimentar o ódio ao próprio corpo vende muito, rende muito dinheiro e cria um vinculo eterno. A busca do corpo da revista, da atriz que teve bebê e recuperou o corpo em semanas, das musas fitness. Tudo isso envolto na venda de dietas, de métodos milagrosos com uma capa linda de vender saúde e nunca mais engordar novamente. A pressão estética nos faz odiar um corpo que com os anos ganhou dois, três, cinco, dez quilos a mais do que quando era adolescente.  Chegamos a vida adulta sonhando com o mesmo corpo de anos atrás e mais do que tudo, somos cobradas por esse corpo. 

O mais terrível em tudo isso é ver meninas sofrendo essa pressão que não é só imposta pela mídia. Os pais, os amigos, os vizinhos reforçam tudo que a sociedade vende. E aqui, meus amigos, eu faço um parenteses para a gordofobia, porque a fala é sobre ficar gordo e quem gostaria de ser gordo, né? Você conhece imaginar o tamanho dessa pressão numa gorda de biquini? Numa gorda de vestido curto numa festa? A pressão estética faz adolescentes e mulheres consumirem míseras calorias por dia, entrando num ciclo de transtornos alimentares porque nos ensinam que sentir fome é errado e que o biquíni na praia e o "antes e depois" na rede social que vai nos levar a satisfação que tanto procuramos.

Não. A culpa não é das mulheres. Essa pressão é muito forte e muito difícil. Meninas, adolescentes e mulheres magras sofrem muito e diariamente com tudo isso porque é parte do machismo que lidamos todos os dias.

Então aonde entra a gordofobia nisso tudo? Como eu disse acima, ninguém que ser gordo. Porque gordo é visto como feio, preguiçoso, sujo, uma pessoa com falta de garra (porque só não emagrece quem não quer). Quando uma amiga magra fala que está enorme do lado de uma amiga gorda, com certeza surge o pensamento do que essa amiga está pensando de você, gorda? É tão mas tão terrível estar com três quilos acima do peso, imagina o que ela pensa de quem está 40 quilos?

E ser gorda é sempre mostrada de forma negativa porque sempre se associa o gordo com o doente. O Obeso Mórbido! O cara que vai morrer a qualquer momento. A bomba relógio do consultório médico. A sociedade transformou a luta contra a obesidade na luta contra o gordo. Por isso falta representatividade. Faltam personagens gordos não caricatos na TV, no cinema. Faltam gordos na revista, gordos que namoram na mídia, gordos em grande marcas de roupas. Mais um vez, a fala é pro gordo ficar na piada, na pessoa que rir de si mesma, naquela que vai vestir qualquer coisa e vai amar qualquer um porque afinal, quem olha pra um gordo? Quem transa com um gordo?

Mais do que tudo a sociedade gordofóbica não nos permite acessibilidade! Ohhh palavrinha mágica. Gordo não passa em catraca de ônibus, gordo não senta em assento de transporte público, gordo não consegue emprego porque não tem uniforme no tamanho dele, gordo não circula pela sala (teatro, cinema, restaurante) porque simplesmente ele não passa entre os espaços da cadeira, gordo não cabe em cadeiras de braço, gordo não cabe em alguns brinquedos, gordo não é bem atendido em hospital porque não tem maca que suporte o peso e produtos médicos que atendam o paciente daquele peso, 

Isso tudo citado acima associado aos sentimento de rejeição ao gordo, de nojo ao incapaz, de doente a apelidos e piadas preconceituosas que acham graça por aí, há muito caminho a ser percorrido e muita luta pela frente. Não é autopiedade e não é mimimi. É resistência e paciência pra um dia a gente olhar pra trás e ver que a exclusão diminuiu consideravelmente.



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