O caos interno e a revolução - Há seis anos me tornei mãe

Ser mãe nunca foi um sonho da minha infância. Na verdade, eu sonhava em ser médica. Eu queria estudar muito pra passar no vestibular de medicina e realizar meu sonho. Então, eu nunca fui aquela menina que sonhava em casar com 22 anos e ter filhos com 25, tão comum na minha geração.

A vida é mesmo uma caixinha de surpresas! Eu acabei mudando de ideia e não fiz medicina (assunto para outro post), casei com 23 anos e fiquei grávida aos 26 anos. Quando eu fiquei grávida, eu imaginava apenas que teria um filho. Lógico que eu sabia que a minha disponibilidade de ir e vir ia ser reduzida e que eu ia dormir menos. Era isso que se reduzia na minha cabeça as mudanças geradas pela chegada de um filho numa casa. 

Por que estou escrevendo tudo isso hoje? Porque hoje é o aniversário da Maria Eduarda, minha filha mais velha. 6 anos. Eu já fiz aqui várias declarações do meu amor por ela ao longo dos anos neste blog. Porque sim, eu sabia que mães amavam suas filhas mas, que é amor é esse? Não é instantâneo, é protetor e quando você menos espera é avassalador! Várias vezes, esse amor tão intenso, me pegou de surpresa nessa caminhada chamada maternidade. Ainda me pega, sabe? 

Mas apesar do texto ser estilo "comemorativo", ele veio falar de mim em especial. 

No dia 02/05/11 as 22h, chegou a esse mundo caótico minha primeira filha, Maria Eduarda. Não posso dizer que chegou nos meus braços porque ela não chegou. Ela só conheceu meus braços no dia seguinte, perto das 6h da manhã. Chegou numa cesárea eletiva, com zero preparação do meu corpo. Eu olhava pra ela encantada e ao mesmo tempo, não conseguia fazer a correlação que aquela bebezinha mais linda do mundo era minha. Eu lembro de muita coisa daquele dia e lembro com muito carinho apesar de dizer que se pudesse eu teria feito diferente hoje. No entanto, esse papo da cesárea da Maria já rolou aqui, certo? Não vou me prender muito nela hoje.

Fomos pra casa. Puerpério ENLOUQUECEDOR!!!!!!!!!! Nunca tinham me falado da solidão materna, dessa tristeza que a gente sente depois que um filho nasce. Eu me sentia meio louca mas depois descobri que as mulheres simplesmente não falam disso. Essa sensação me percorreu pelo primeiro ano da Maria Eduarda e nesse ano eu simplesmente não encontrei meu modo de maternar. Eu fiz o que tinha que fazer. Eu alimentei, cuidei, troquei, dei carinho e fui levando um dia após o outro. Eu queria ser a mesma Marcela de antes da gravidez e não conseguia e isso acabava comigo. Eu só tinha tido um filho, meu Deus!!!! Nada tinha me mudado!

Até que eu percebi que Maria tinha me mudado. Eu não era mais aquela Marcela. Entrei em luto por aquela que eu não era mais e então, abri os braços pra receber essa nova Marcela. E seis anos depois, eu ainda abraço ela de vez em quando. Por que a maternidade me mostrou que a vida é uma evolução eterna.

Maria Eduarda chegou pra balançar minhas estruturas, pra me fazer olhar pra mim mesma e REFLETIR. A culpa materna foi minha primeira companheira. Ela foi boa pra mim pela abertura para reflexão e em seguida, para descobrir que eu tinha mudado o suficiente pra não me encaixar mais naquela Marcela antes de ser mãe. Depois da culpa, eu descobri o feminismo e me livrei da culpa e me libertei de outras amarras (sigo lutando contra outras). O feminismo chegou a mim também pela maternidade, pela Maria que amava carrinhos, pela menina que eu queria que crescesse podendo ser o que ela desejasse, uma Maria livre das prisões do rosa x azul, da boneca x carrinho. Foi sempre a Maria Eduarda o estopim.

Maria Eduarda me ensinou a aceitar o caos e transformar esse caos em reflexão e mudança de atitude. Quando eu achei que ela já tinha me ensinado muito, Maria me questiona sobre as pessoas. Me questiona as diferenças físicas e atitudes. Daí como ensinar uma filha sem propagar nela nosso racismo, machismo, homofobia, gordofobia e preconceitos do dia a dia? Como mostrar a essa nova geração um novo caminho? Na minha mente e no meu coração se instalou o caos. Eu cai de cabeça nessa reflexão sobre preconceitos e racismo e foi dolorido demais. Eu chorei. Eu neguei.  Eu que sempre me achei uma pessoa boa me vi racista e preconceituosa. Novamente, a Maria Eduarda me mostrou que entendia melhor do que eu. Com ela, as vezes, eu tenho papos extremamente importantes e sérios.

Maria Eduarda chegou mudando a minha fé. Hoje, não tenho dúvida que tínhamos que ser mãe e filha. Que ela tinha muito a me ensinar. Ninguém nesse mundo foi capaz dessa revolução que eu sinto hoje. Ninguém foi capaz de me fazer refletir, questionar privilégios e aprender de verdade o que é empatia. Ela despertou esse sentimento de mundo melhor, de revolta com injustiças,  de cada vez olhar mais para o outro. Ela instalou meu caos interno!

Maria me fez entender que tudo bem aceitar que a maternidade não é um mar de rosas. Ela não é mesmo. Com Maria, eu descobri que minha maternidade é de luta!

Acho que já escrevi demais sobre ela mas é assim mesmo, me sobra amor e palavras. Não consigo resumir MARIA EDUARDA e mãe que ela me tornou!

Obrigada!
Parabéns, meu amor!
Feliz Aniversário!





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