Solidão materna

Há mulheres que sonham em ser mãe. A maternidade é uma questão difundida entre meninas desde o cuidado da boneca quando ainda eram bem pequenas. Algumas mulheres crescem com essa vontade profunda de vivenciar a maternidade. Algumas outras, vão acabar engravidando porque não tem certeza se querem ou não ter filhos (a sociedade ainda nos pressiona neste aspecto). Algumas não terão filhos e outras terão filhos porque a maternidade no Brasil não é opcional, é compulsória.

Hoje, meu foco está nas mulheres que desejam ter filhos. As vezes, a gente se prepara ou espera (ou escuta) milhares de coisas sobre as mudanças que a chegada de crianças causam na nossa vida. Eu sei que por mais alertadas que estivermos é quase impossível ter uma real visão sobre o momento sem a tal famosa vivência. O que pouquíssimas pessoas falam ou até mesmo comentam é a enorme e avassaladora solidão que envolve tudo relacionado ao maternar.

Quando a gente se torna mãe, enfrentamos sem nenhum preparo ou tempo, um puerpério. Um período digno de esquecimento, diria eu. Essa é a primeira fase que a gente vivencia a solidão. Muitas vezes, uma solidão cheia de presença, que ninguém te entende, ninguém cuida de você nesse que é um momento de confusão, tão introspectivo.

Depois a solidão se confirma nos amigos que desaparecem porque suas vidas já não se encaixam mais na sua. A solidão se apresenta na madrugada aonde todos dormem, menos você e o bebê que chora o tempo todo. A solidão te abraça quando o marido sai pra trabalhar e você passa horas entre bebê e casa, rezando pra conseguir fazer coco. A solidão puxa seu pé quando seus colegas do trabalho se divertem num happy hour. A solidão te envolve na demissão pós licença maternidade quando muitas vezes, querem te fazer engolir goela abaixo que vai ser melhor você ficar cuidando do seu filho. A solidão vira sua companheira quando você decide pedir demissão e se dedicar exclusivamente ao bebê porque você é a louca que abandonou tudo por um filho que "deve ser criado pro mundo". A solidão vira suas horas e minutos cada vez que o pai tem seu poder de escolha inalterado pela chegada do filho e você segue aguentando os pontos.

A solidão traduz muito a maternidade. 
Maternidade que ganha super poderes, força, garra, santidade e superação. 
Maternidade que perde oportunidades, crescimento, amigos, festas, diversão.
O endeusamento da maternidade é ainda mais solitário e julgador.
O santificar das mães ridiculariza nossos limites e fortalece a desigualdade nos papéis de mãe/pai.
Somos nós, sociedade, que alimentamos essa solidão.
Somos nós que afastamos as mães
Somos nós que financiamos serviços que proíbem a presença de crianças.
Somos nós que convidamos para uma festa com um bilhete "deixe seu filho em casa".
Somos nós que permitimos pais livres.
Somos nós que não damos a paternidade o mesmo peso que a maternidade.
Somos nós que repetimos "mas mãe é mãe".
Somos nós que entendemos as críticas de amigos sem filhos.
Somos nós que fechamos nossos olhos e braços para as mulheres.

A maternidade real não é um conto de fadas. 
Não há príncipes encantados.
Não há princesas.
Não há castelos.
Não há o clássico "felizes para sempre".
O que há é muita busca, caminhos, encontros e desencontros.
Isso vai muito além da minha maternagem privilegiada e cheia de escolhas.
Isso vai muito além da sua maternagem.
Vai da luta de cada dia.
A luta de cada mãe.
Luta que se luta sempre sozinha
Em solidão.


Foto google imagens


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