Filhos, amor, preconceito - Quando o amor incomoda mais que o ódio
Como a
grande maioria dos textos que eu escrevo, esse ficou matutando na minha cabeça
desde cedo. Parte de mim queria escreve-lo e parte de mim ficou um pouco
reticente porque não é meu lugar de fala. Decidi então, escrever no meu local,
como mãe.
Para mim sempre foi muito obvio que minhas filhas seriam criadas
entendendo que o amor é livre e que ele pode ser vivido indiferente da
identidade de gênero de uma pessoa. A vontade dessa naturalização era tão
grande justamente porque eu não vejo essa naturalização na minha geração e nem
nas anteriores. Minha geração faz piadas, zomba, vigia e faz brincadeiras de péssimo
gosto com a sexualidade alheia.
Assim que o amor entre pessoas do mesmo gênero bateu na nossa porta, eu
ouvi as percepções da Maria Eduarda e descobri que somos nós que nos
preocupamos demais em como a criança vai reagir vendo dois homens (ou duas
mulheres) se beijando, se casando, tendo uma relação. Ainda vejo muitos pais e mães que preferem colocar uma pedra no assunto LGBT em suas casas. Toda essa dificuldade oriunda do nosso próprio preconceito. Há um receio da "influência" sobre seus filhos, sobre questionamentos de "certo ou errado" ou mesmo de "pecado x pecador", ou de como eles vão lidar com a situação. O fato é que crianças entendem o amor com muita facilidade até porque é muito simples explicar que pessoas se amam. O contrário que é complicado.
O que vi por aqui foi
naturalização. Tudo que eu falei foi que amor é indiferente se é homem ou
mulher, que a gente pode amar qualquer pessoa e que pessoas que se amam muito podem se casar, se desejarem. A pergunta que recebi era se teria bolo. Posteriormente, ela contou na
escola da experiência familiar e nunca fez distinção se era mulher ou homem. Ela não faz nem idéia que pessoas fazem piadas, zombam e matam por isso. Em
alguns outros momentos da nossa vida, ela me viu ou me ouviu falando sobre situação amorosa
entre pessoas do mesmo gênero, eu sempre conversei para reforçar sobre a liberdade do amor.
Por que
estou falando de tudo isso agora?
Por que amar ainda incomoda tanto. O preconceito que mata horrores, e que é a vivência de milhares de pessoas unicamente porque escolheram amar e serem felizes. Pessoas que ainda lutam e resistem
a cada dia nesse mundo (este sim, doente demais) que olha torto, que faz piada,
que mata quem anda de mãos dadas, quem beija, namora pessoas do mesmo gênero ou
pessoas que não se prendem a nenhum gênero específico.
Mas
quero ver se suas filhas forem gay/bi, se você vai gostar? Vou gostar sim. Vou
adorar. Vou ama-las como sempre amei. Vou recebe-las de braços abertos. O que
me preocupa é se minhas filhas vão odiar o próximo, se vão achar “ respeito gays mas
longe de casa” ou “é minha opinião, tenho até amigos gays”, que vão fiscalizar
a vida alheia. Se elas encherem suas vidas de amor, amarem e serem amadas, eu
estarei muito feliz.
Que a
gente possa juntar forças nesta luta contra esse conservadorismo que tenta nos
engolir a cada dia;
Que a
gente possa mostrar aos nossos filhos que não há pecado e não há doença no amor;
Que a
gente possa evitar que mais um menino morra espancado por ser “afeminado”;
Que a
gente possa exercer plenamente a empatia e que possamos ser cada vez mais livre
para amarmos quem quisermos;
Que a
gente aprenda de uma vez por todas, que não basta falar “minha opinião” para se justificar. É sim, a sua opinião e segue sendo preconceituosa.
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