Reflexo de uma mãe: A difícil tarefa de aceitar um novo “EU” – a transformação de uma garota em uma mãe.

Pensei em escrever esse relato em terceira pessoa, depois acabei mudando de ideia e decidi, narra-lo na primeira pessoa. Afinal, muitas mães podem ter vivido o mesmo de forma mais simples ou mais complexo e algumas, podem ainda nem ter vivido essa mudança.

Ter um recém nascido em casa foi muito difícil. Da mesma forma que eu a amava demais, também me sentia perdida, vivendo um mundo de peito-arrota-dorme-troca fraldas. Para quem trabalhava demais, chegava em casa e só se preocupava com gatos e marido, era uma vida muito diferente. Eu ouvi mil coisas, mil conselhos, me vi seguindo o padrão, a rotina. Não tinha achado a minha identidade como mãe.

Nunca vou me esquecer de como me sentia só, como o mundo parecia contra mim. Todos estavam contra mim, até mesmo aqueles que me apoiavam. Era o que eu senti muitas vezes. Já tive vontade de sair correndo, de fugir, de ganhar “liberdade”. Talvez tenha faltado um preparo maior na gravidez, mas me pergunto se uma mãe de primeira viagem realmente consegue se preparar completamente pra chegada de um filho. Eu não sei responder. Pulo essa!

Chorava e chorava. Chorava quando Maria dormia, quando ela chorava, quando sorria. Ela era um bebê tranquilo, dormia bem durante a noite mas nada mesmo durante o dia. A rotina do bebê e da casa acabou comigo.

Eu retornei ao trabalho e essa sensação de solidão acalmou um pouco. Aos poucos, eu tentava voltar a ser quem eu era. Seria isso possível? Não. Descobri que não. Pelo menos pra mim, a Marcela, aquela garota de antes, tinha morrido. Uma nova Marcela estava nascendo. Não sei quando essa mudança ocorreu. Na verdade, quando eu me dei conta dela. Um belo dia, eu fui engolida pela famosa culpa materna.

Ela me engoliu de tal forma que me fez sofrer. Eu nunca admiti nenhuma crítica como mãe, de ninguém e naquele momento, EU mesma, virei os olhos pra mim e me critiquei fortemente. Isso não aconteceu quando Maria tinha meses. Ela já tinha quase 2 anos quando a minha ficha caiu. Digerir a culpa foi ainda mais difícil.

Acho que perdoarmos nós mesmos é ainda mais difícil do que perdoar o outro. Ainda não sei se eu me perdoei (acho que sim). Nessa parte do texto quero deixar claro (muito claro) que estou refletindo apenas os MEUS pensamentos. Cada mulher e cada mãe com os seus e respeito demais a decisão de cada uma. 

Fiquei matutando por que cargas d’água eu me deixei levar pra uma cesária eletiva? Por que cargas d’águas eu não amamentei exclusivamente pelos 6 meses? Por que cargas d’águas eu não fiz cama compartilhada desde que ela nasceu e me poupei horas de sono? Por que cargas d’água eu não sabia brincar com a minha filha? Por que cargas d’águas eu não estava sendo a melhor mãe que eu podia ser?

Ter essa consciência é uma tapa na cara!!! E o dia que tudo isso me pegou, olha....foi difícil digerir. Conversando e aos poucos, fui me perdoando e entendendo que aquela Marcela não tinha encarado a mudança, o luto pela garota que eu tinha sido. Como eu, que amava minha filha mais que tudo no mundo, tinha falhado tanto mas tanto com ela?

Pois bem, o tempo não volta. O que passou, passou. Cabe nós aprendermos com erros e abrir bem os olhos pra enxergar as modificações que estão ali, na sua cara, mas você as vezes, não vê, não quer ver. Como eu disse, cada mãe tem seu tempo e seu momento. Hoje, apesar dos meus erros, tenho consciência que tudo que fiz, fiz achando que era certo ou que não faria mal a ela.

Eu parei a maré. CHEGA! Se tiver que remar contra correnteza pela minha filha, vou remar com todas as minhas forças e com maior prazer.


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