O que eu e minha filha temos a ver com a cesariana imposta em Torres-RS?
No último dia 01/04 (apesar de dia da mentira, era verdade),
uma gestante foi obrigada a se submeter a uma cesariana devido a uma ordem
judicial, solicitada por uma obstetra. A paciente tinha estado no hospital
anteriormente. Mãe e bebê estavam bem.
Aparentemente, o bebê estava sentado. A
obstetra queria internar e fazer a cesária. A paciente se recusou, assinou o
termo de responsabilidade e foi pra casa. Em pleno TP, chegam a sua casa 10
policiais e a obrigam a ir pro hospital.
Afinal, eu diria, o que eu, você, minha filha, seus filhos,
tem com essa historia toda?
TUDO, eu respondo a plenos pulmões.
É um choque
receber uma noticia dessas, talvez inédita no Brasil, de tamanha violência
contra a mulher. Apenas alguns dias depois de outra pesquisa (duvidosa ou não,
mas realista) demonstrar que boa parte dos brasileiros acreditam que o
comportamento da mulher está relacionado a situação dela ser atacada ou não.
Eu, mãe de uma menina, me sinto envergonhada, desmotivada,
enojada e com vontade de sumir desse mundinho, que ainda acha que a mulher é um
ser pra servir os outros, sem opinião. Quanto desrespeito conosco! Quanta falta de
igualdade! Quanto mais caminhamos, mais é preciso caminhar, desbravar e lutar.
A idéia de alguém decidindo por mim é abominável. Aonde está
meu direito de cidadã? Perigo para o bebê? Que perigo efetivo? Fico imaginando
que tipo de literatura, documentos foram anexados para que a juíza aceitasse
uma solicitação desse tipo. Tudo que é observado em evidências científicas vão
contra tudo que aconteceu em Torres.
Com
justificativa de “vamos salvar o bebê”, vamos expor a mulher a uma cirurgia sem
seu consentimento, vamos invadir e cortar seu útero, seu corpo. Vamos arrancar seu bebê. O corpo de uma mulher em
pleno trabalho de parto. Um corpo que iria a um hospital quando o TP
engrenasse.
Me dá medo do que espera a minha filha nos próximos anos. Me
dá medo de tudo que ela terá que enfrentar por ser mulher. Aos meus amigos, eu
digo, esqueçam a cesariana, e façam analogias a tantos outros casos de escolha,
em que pais podem colocar seus filhos em risco. Imagina você sendo levada presa
ou pagar multas porque bebeu e estava grávida, porque levou seu filho ao médico
mas não deu o medicamento indicado, porque não autorizou algum procedimento.
Somos indivíduos e merecemos respeito. No nosso corpo,
ninguém mexe sem nossa permissão.
Há algum tempo atrás, alguém pensou que podia. Pensou que os judeus eram os culpados, que poderiam andar pela ruas a invés de
calçadas e depois, poderiam prestar serviços, deveriam ser extintos. Algum
tempo atrás, alguém acreditou numa raça pura e que todos que a que ela não
pertenciam não eram dignos. Foram
exterminadas milhões de pessoas.
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