Marielle, presente - o racismo que calou 46 mil vozes

A primeira fez que ouvi falar da Marielle foi durante sua candidatura para vereadora em 2016. Tanto no Rio de Janeiro quanto em Niterói, parecia que tinham ouvidos nossas preces. Candidaturas feministas, negras voltadas para periferia e lutando contra racismo e outras formas de preconceito. Lutadoras dos direitos humanos. Ambas mostraram em uma votação expressiva a falta que a população sentia de candidaturas como as delas.

Meu voto não foi da Marielle porque eu não voto no município do Rio de Janeiro. No entanto, ela era tudo que eu acreditava para política. Quando recebi a notícia da sua morte, não consegui engolir o bolo na garganta e o embrulho no estômago. As lágrimas caiam. Tudo morto junto com ela , todo um sonho. Um sonho de voz. Uma mulher negra, lésbica, mãe, da favela tendo voz no Brasil.

Mataram Marielle porque uma sociedade racista como a nossa, com poderosos como os nossos, não suportava ver uma mulher negra e favelada no poder, no comando, se metendo aonde eles achavam que ela não devia. O racismo matou Marielle. Suas convicções foram apenas uma soma nessa equação. Afinal, quem protege as mulheres negras? São as que mais morrem, as que mais sofrem no SUS.

Os assassinos de Marielle queriam mais do que silencia-la, queriam espalhar medo e intimidar outras mulheres.

Levaram de nós uma mulher que poderia ter contribuído sem igual pelo Rio de Janeiro, pelo Brasil. Deixaram nós que víamos nela uma esperança e uma inspiração, com coração partido, um pouco morto junto com ela.

Entretanto, por Marielle, não vamos calar. Convido as mulheres brancas como eu a escutarem as mulheres negras. Convido as mulheres brancas como eu a saírem do seu protagonismo inerente desta sociedade e ouvir e dar voz as vozes negras. Enquanto a gente não lutar contra o racismo, não usar nossos privilégios de branquitude pra problematizar, apontar e combater o racismo, veremos mais Marielle, mais mulheres negras mortas. Já chega!

Somos sementes.
Nós somos porque ela era e é.

Marielle, presente.


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