"Quem pariu Mateus que o embale" é o espelho real da maternidade

Desde que virei mãe, participo de grupos maternos e acompanho relatos e páginas voltadas para a maternidade. Uma das coisas mais obvias para mim é que a sanidade materna tem muita relação com rede de apoio. Aquele papo de que para criar uma criança é preciso uma aldeia é um ideal de vida, até meio utópico porque é inalcançável para a grande maioria das mulheres. Mulheres estão mesmo para o ditado "quem pariu Mateus, que o embale".

E aí, o que observamos é que quem pariu "Mateus" é somente a MÃE. Mesmo que esse mesmo "Mateus" tenha um pai. O peso da maternidade é diferente da paternidade. O famoso "Mãe é mãe". Afirmação mais gritante do mundo, não é? Culpa da sociedade? Culpa da criação? Culpa do patriarcado? O que eu vejo é que mesmo para os homens que querem assumir uma paternidade ativa, há uma exaltação de "heróis", "paizão" apenas por cumprir o papel dentro da educação e crescimento de um ser da qual eles também são responsáveis. Os 99,9% restantes dos homens ainda vão gozar (e gozar muito na nossa cabeça) da sua liberdade, das suas horas de trabalho, do seu crescimento social, pessoal e profissional.

Tudo isso não é para falar sobre paternidade. 
Tudo isso não é (ou talvez seja) para falar de ausência. 
Vamos voltar ao Mateus e a sua MÃE, que é que vai parir, embalar, alimentar, cuidar e educar.

Como todas (a grande maioria) das funções ou o planejamento das mesmas,fica a cargo de quem pariu o Mateus, há sobrecarga, há cansaço e falta paciência. Então, a gente fala mais "não" do que gostaria, esgota criatividade, coloca pra dormir mais cedo, apela para TV, grita muito mais, trabalha integralmente e cochila no meio da brincadeira (quando a gente decide que afinal é preciso brincar UM DIA! com essa criança), briga e briga muito. O resto do tempo estamos lidando com tosses, febres, vômitos, falta de sono, choros, conflitos, mais falta de sono, emergências médicas, trabalhos para entregar.

Às vezes, viramos um monstrinho mesmo para os nossos filhos. Aqueles a quem eles chamam de chata, aqueles a quem eles desafiam, aqueles a quem falam "mamãe, deixa o papai dormir que ele tá muito cansado!", aqueles a quem gritam que você está gritando muito.

E quantas mulheres são abordadas na rua com a frase "como você da conta de tudo?" com tons de surpresa e choque? Quantas escutam isso das amigas, do chefe, da sogra? Lenda urbana, galera! Nenhuma escuta porque simplesmente se subentende que se é mãe, ela aguenta. Colocam no tal "instinto materno" (???) um super poder maior que de todos heróis dos quadrinhos juntos. É de ficar de queixo caído. 

Por isso eu já disse tantas vezes por aqui que odeio discurso de heroína. Não nos santifiquem. Não nos idealizem. Se estamos sendo heroínas,  é porque alguém tem mais liberdade de quem pariu o Mateus. É porque a balança tá discrepante. Uma coisa é certa (pode perguntar para todo mundo que pariu Mateus) é que não queremos super poderes. Porque a mamãe não quer ser a bruxa, nem ser a fada, nem ser a mulher maravilha. Apenas ser for na brincadeira e no faz de conta. Na vida real, queremos igualdade, queremos sanidade. 



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